Planto flores: semeio e colho esperanças
Contemplo o meu jardim, e vejo que
as flores brotaram exuberantes pelas copiosas chuvas de verão. Elas me falam,
no confronto com o silêncio mórbido provocado pelo confinamento da cidade e da
nação, que apesar de tudo, Deus está no comando.
Então o tempo não é para reclamação,
e nunca o será. Não é de críticas exacerbadas, para se arrumar um bode
expiatório por causa da recessão, a qual se anuncia intrometida e invasora. Nem
de lamentos: a natureza dá o seu recado, e o colorido exuberante das flores
diz-nos que sempre é tempo de sorrir e brilhar. Elas brotam, teimosamente
brotam. Superam a estiagem porque sabem esperar o seu tempo. E num momento em
que a própria vida parece implacável, florescer é o remédio natural que aquieta
a alma, e acalma o meu coração.
Engana-se o poeta que disse: “Se não
houver, flores (...)”, pois elas sempre hão. Exuberantes, raquíticas, visíveis,
invisíveis, perfumadas ou não, matizadas ou únicas, sempre singularizam a
diversidade em que a vida se constrói. E elas falam, e nós seres humanos em
tempos tão confusos precisamos ouvi-las. Dizem que se em meio à perspectiva do
caos, das pedras, do lixo, da falta d’água, das enchentes, da subida e descida
íngremes, da agonia do planeta, do pecado, e, do embrutecimento humano, brotam em
renovo, nós podemos sim crer no amanhã. Então, confiantes devemos agir ainda
que seja como a “haste que o vento recobre de pó, que a roda apressada amassou,
e que o pé distraído pisou (...), deve erguer-se confiante. Sempre existe uma
esperança! pois ela aos olhos de Deus tem valor”.
Como as flores do meu jardim, então,
quero florescer sem medo de ser feliz. Apesar de tudo. Afinal, se “Deus em seu
tempo faz tudo formoso”, o que se descortina certamente nos fortalecerá.
Crônica: Jailson Estevão dos Santos