quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

     Só Deus pode trazer a paz e consolo aos irmãos e amigos de Santa Maria-RS nessa hora de dor.
                   
                      "Se paz a mais doce me deres gozar, / Se dor a mais forte sofrer,
                      Oh! seja ou que for, Tu me fazes saber / Que feliz com Jesus sempre sou!
                      Sou feliz com Jesus meu Senhor"!

      Com os meus sentimentos a tantos que perderam seus entes queridos numa tragédia tão dura quanto a de Santa Maria-RS., relembro uma das mais belas páginas da Antologia Poética. Ela nos faz lembrar que pais e mães só descansam quando seus filhos estão em segurança.
     Rogo a Deus as suas misericóridias em favor de todos os que sofrem e que com angústia ouvem os passos de seus filhos retornando ao seu porto seguro.

                                Oração da Maçaneta    ( Gióia Júnior )

Não há mais bela música que o ruído da maçaneta da porta
quando meu filho volta para casa.
Volta da rua, da vasta noite, da madrugada de estranhas vozes.
E o ruído da maçaneta, e o gemer do trinco,
o bater da porta que novamente se fecha,
o tilintar inconfundível do molho de chaves
São um doce acalanto, uma suave cantiga de ninar.
Só assim fecho os olhos, posso afinal dormir e descansar.
O! a longa espera, a negra ausência,
as histórias de acidentes e assaltos
que só a noite como ninguém sabe contar!
Oh! os presságios e os pesadelos, o eco dos passos nas calçadas,
a voz dos bêbados na rua, e o longo apito do guarda medindo a madrugada,
e os cães uivando na distância e o grito lancinante da ambulância!
E o coração descompassado a pressentir e a martelar
na arritmia do relógio do meu quarto

esquadrinhando a noite e seus mistérios.
Nisso, na sala que se cala, estala a gargalhada jovem
da maçaneta que canta a festiva cantiga do retorno.
E sua voz engole a noite imensa com todos os ruídos secundários.

Oh! os címbalos do trinco e os clarins da porta que se escancara
e os guizos das muitas chaves que se abraçam
e o festival dos passos que ganham a escada!
Nem as vozes da orquestra e o tilintar de copos
e a mansa canção da chuva no telhado
podem sequer se comparar ao som da maçaneta que sorri
quando meu filho volta.
Que ele retorne sempre, são e salvo.
Marinheiro depois da tempestade a sorrir e a cantar.
E que na porta a maçaneta cante a festiva canção do seu retorno
que soa para mim como suave cantiga de ninar.
Só assim, só assim meu coração se aquieta,
posso afinal dormir e descansar.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

ANTÍTIPO DE SER (Jailson Estevão dos Santos)

Bem aventurados os que choram
Porque eles revelam o verdadeiro “Eu”
E encontram nas lágrimas
A evidência do sublime... do real.
Pois mais do que fraqueza,
Chorar é sinal de fortaleza
Felizes os que das lágrimas se alimentam.

Bem aventurados os que choram
Porque eles se tornam transparentes
Das angústias desta vida terreal
Que são ecos da luta renhida.
Só os fortes choram
Só os fracos disfarçam
Felizes os que com lágrima reagem.
Bem aventurados os que choram
Como o fez o mestre dos mestres – Jesus:
Ante as injustiças do homem
Incompreendendo o profeta.
Ante os túmulos da vida, signos da destruição.
É elástica a visão dos que choram,
À semelhança da sensibilidade do Cristo
Felizes os que através das lágrimas sonham.

Bem aventurados os que choram
Não o choro da emoção momentânea.
Não o sentimento do sofrer alheio
Que reclama por ações mais que emoções.
Nunca a provocação da persuasão hipnótica
E sim, a angústia de querer o bem lógico,
Felizes os que derramam lágrimas do saber.

Bem aventurados os que choram
Pois se conscientes, serão consolados,
Se por sentimento, ao menos fortalecidos.
Mas os que choram como artistas,
No disfarce, fugitivos estão da lide.
Jamais descansarão na verdade
Felizes os que vivem as lágrimas da justiça.

Bem aventurados os que choram
As misérias sociais que campeiam.
A pueril mortandade, e os vícios,
De inocentes, filhos da pátria.

Alguns consolados no dever cumprido.
Outros na omissão destruídos.
Felizes os que com lágrimas semeiam.

Bem aventurados os que choram,
Porque voltarão com júbilo trazendo frutos.
E mesmo que o clamor não seja ouvido
Cada lágrima ao chão produzirá seu ruído
E o choro terá o seu galardão,
E o sonho não será só visão,
E serão felizes os que com lágrimas lutaram.